Confesso que estava com uma certa preguiça em redigir este post, mas não dá para deixar fora de qualquer narrativa de viagem sobre São Petersburgo a sua principal atração.
No entanto, fazer um relato sobre “museuzões”, ou seja, aqueles cujo principal objetivo da instituição é o de expor obras de arte, em contraposição àqueles museus em que o visitante estará mais exposto à História, como ocorre, por exemplo, nos castelos que foram antigas habitações da nobreza, pode ser difícil e, principalmente, muito superficial.
É bem verdade que o Hermitage mescla um pouco das duas concepções acima, o que, por um lado pode ser ótimo, por outro, pode ser uma característica que de certa forma atrapalha. Esclarecendo: a estrutura interna, a ornamentação das salas do Hermitage, sobretudo da parte que funciona na antiga residência imperial do Palácio de Inverno, é tão suntuosa e magnífica, que acaba de certa forma eclipsando o impacto que as obras de arte expostas causam nos visitantes. Você fica em dúvida se olha para o teto, para as paredes, para o chão… ou para os quadros, esculturas e objetos expostos: uma briga que dispersa os seus olhos. Para estabelecer uma comparação fiel seria o mesmo que transportar as obras de arte do Louvre para expô-las no Palácio de Versailles. É, sem sombra de dúvida, o mais deslumbrante museu de sua categoria que eu conheci, em termos de estrutura física do prédio que o abriga. Sério!
Como a maioria dos grandes museus, sua criação se deu pela ideia de expor as obras de arte adquiridas pela família real ao longo do tempo. A história do Hermitage remonta ao período do reinado de Catarina II, a Grande, que, ao comprar uma grande quantidade de telas de pintores ocidentais, para abrigá-las, comissionou a reforma do Palácio de Inverno com a construção do espaço necessário para expor as obras. Eu já mencionei em posts anteriores que a família real russa era sensivelmente mais culta do que a maioria dos reis e rainhas dos outros Estados europeus. No caso, Catarina II era amiga e correspondente de Voltaire e de outros filósofos iluministas, se aconselhando com eles na aquisição de obras de arte. E essa prática continuou com os demais czares. A vasta coleção de impressionistas do museu foi comprada pelos imperadores diretamente com os pintores – a preço de banana, na época – escutando conselhos de profissionais entendidos em arte. E assim foi formado o acervo que, futuramente, se tornaria um dos maiores museus do mundo (alguns sites alegam que ele é o maior, outros dizem que o Louvre ocupa a posição).
Reza a lenda que, após a construção dessa nova ala do Palácio de Inverno, a Imperatriz Catarina II, gostava de se trancar sozinha pelo espaço de forma a admirar as obras sem que ninguém a perturbasse, permanecendo isolada por várias horas, como uma eremita, uma ermitã… Daí o nome Hermitage.
Em 1852, o czar Nicolau I abriu o museu ao público, após a construção de um novo prédio chamado de o Novo Hermitage, que fica ao lado do Palácio de Inverno (há uma passarela ligando os dois prédios), cuja entrada era pela Millionnaya ulitsa.
Tendo em vista o vasto acervo do museu, que faz com que a sua visita integral dure várias horas de vários dias, a sugestão que eu dou é a de selecionar de antemão aquilo que é mais importante para vocês visitarem. Nós escolhemos os aposentos em que os czares habitavam, com o mobiliário da época (em francês, são chamados de chambres d’apparat, eu desconheço uma tradução da expressão para o português ou para o inglês), a extensa coleção de Rembrandts (a maior do mundo depois da exposta no Rijkmuseum de Amsterdam), os dois quadros do Da Vinci, o enorme acervo de Rubens (por sinal, o Hermitage bate um bolão em arte flamenca), a pintura italiana (Raphaël, Caravaggio…), fora os impressionistas e modernos. De qualquer maneira, não dava para fazer o que eu gosto, que é parar em cada quadro e ficar um tempo observando detalhes… Ficamos umas 5 horas lá dentro e, mesmo assim, vimos os impressionistas e modernos tão rápido, pois estávamos exauridos, que voltamos no dia seguinte para ver com mais calma. Deixamos de lado a arte egípcia, grega, romana, além da pintura alemã e boa parte da pintura holandesa e várias outras obras de arte de diferentes escolas e épocas.
E isso tudo porque nós otimizamos o tempo, já que a visita foi feita na companhia da Anna Rudaya, o que evitou de nos perdermos dentro da infinidade de salas do museu, além de ter nos transmitido informações históricas interessantes.
As fotografias que nós tiramos são basicamente das chambres d’apparat. Para as obras de arte expostas, nós compramos um catálogo do museu.
Pela Escadaria de Jordão, todo Dia de Reis, que é a data em que os cristãos ortodoxos russos trocam os presentes de Natal (como ocorre na Espanha), o czar descia por essa escada, acompanhado por um séquito, dirigindo-se até o leito do rio Neva, congelado. Lá chegando, abriam um furo no gelo e coletavam um pouco de água, que o czar bebia para ter boa sorte, tanto para ele, quanto para o Império. Os russos são extremamente supersticiosos.
Ainda no Palácio de Inverno, com janela com vista para o rio Neva, fica, na minha opinião, a sala mais bonita do museu, o chamado Pavillion Hall, datado do século XIX. Nesta sala fica o interessante Relógio Pavão, em formato da ave, e que funciona até hoje. Segundo o que a guia nos contou, uma vez por semana (vale à pena conferir o dia – eu queria ter assistido, mas não deu) ele é posto para funcionar e a ave, que é um autômato, se mexe, estica as penas, abre a cauda… O objeto foi um presente da Inglaterra para a Imperatriz Catarina II, a Grande. Além do relógio, a sala é guarnecida com mosaicos, isso sem mencionar que a decoração foi feita com dourarias no gesso e mármore abundante. É de uma delicadeza…
E é uma sucessão de salas magníficas…
Na foto acima, as pinturas da parede foram feitas diretamente no mármore, nunca tinha visto algo do gênero. É bonito, mas ficou parecendo decalque.
Informações Práticas
O Museu é bastante cheio, nível Musée d’Orsay, ligeiramente menos lotado do que um Louvre ou do que um British Museum, isso porque não fomos em alta temporada. O foyer de entrada é uma confusão sem fim, principalmente se você for tentar comprar as entradas diretamente na bilheteria. Para sair desse problema, eu sugiro três soluções: 1) comprar pela internet (pelo que verifiquei o bilhete comprado online vale para qualquer dia, mas convém se informar); 2) adquirir as entradas nas máquinas automáticas que ficam de ambos os lados da entrada do museu que fica na Praça do Palácio de Inverno. Essas máquinas se encontram no pátio interno, no fundo, e ninguém as nota (nós as utilizamos em nossa segunda visita ao museu); 3) contratar um guia (é a opção mais cara, mas a melhor para quem quer aproveitar mais a visita e evitar de se perder na imensidão do lugar).
Apesar de não ser como o Louvre ou como o British Museum (utilizo os dois como exemplo, porque ficam também em prédios muito antigos que foram adaptados), o Hermitage é acessível para quem tem mobilidade reduzida (meu caso), mas os elevadores não são tão bem sinalizados assim. Você pode perguntar as indicações para os fiscais do museu (muitos falam inglês, principalmente aqueles que ficam sentados nas mesas na sala imediatamente anterior à sala do trono).
Dica: na loja do museu, se você quiser comprar livros, eles enviam diretamente para o Brasil. Demorou, mas chegou tudo direitinho.
Os pontos ruins:
1) banheiros pessimamente localizados. Muitas vezes, você tem que dar voltas, descer escadas…, o que pode ser um problemão, dependendo da situação;
2) o café do museu é uma droga! Não tem lugar para sentar direito, é self service, é caro… Aqui foi onde eu armei um barraco com uma brasileira. Estava guardando lugar para duas pessoas num dos bancos laterais da galeria, em que está precariamente instalado o café. A mulherzinha veio e mandou todo mundo do grupo dela sentar, ao que eu avisei: “estou guardando lugar para duas pessoas”, ao que ela rebateu “só podia ser brasileiro para ser mal educado”. Prontamente respondi: “só podia ser brasileira para ser abusada! Se você estivesse sentada numa mesa e eu chegasse e tentasse me sentar no lugar vazio e você dissesse que estava ocupado, eu sairia numa boa. Como existem poucas mesas no café, o mesmo raciocínio tem que ser feito para os bancos laterais”. Ela tentou argumentar, mas viu que uma mesa ficou vaga e saiu.
Eu reservaria pelo menos umas 5 horas para o museu, selecionando o que você quer ver. Levaria também um lanchinho (barrinhas de cereal ou chocolates… não acredito que eles deixem entrar com sanduíches) em uma bolsa bem pequena (casacos e bolsas grandes têm que ser obrigatoriamente deixados na chapelaria) e me informaria também sobre a localização dos toilettes para evitar qualquer perrengue.
vcs ae com esse palácio lindo e maravilhoso uma beleza,e nos aq no brasil com essa pobreza.
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Eu moro no Brasil…
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